TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS SERES em sua...
I
ADÃO
1 — Antes do tempo, a imensidade divina.
Antes do tempo Deus emanou seres espirituais para sua própria
glória, em sua imensidade divina. Esses seres tinham a exercer um
culto que a Divindade lhes fixara por leis, preceitos e
mandamentos eternos. Eles eram, portanto, livres e distintos do
Criador, e não se pode negar o livre-arbítrio com que foram
emanados sem destruir a faculdade, a propriedade e a virtude
espiritual e pessoal que lhes eram necessárias para operarem com
exatidão dentro dos limites em que deviam exercer sua potência.
Era, positivamente, dentro desses limites que esses primeiros seres
espirituais deviam render o culto para que foram emanados. Esses
primeiros seres não podiam negar nem ignorar as convenções que
o Criador fizera com eles, dando-lhes leis, preceitos e
mandamentos, posto que era unicamente sobre essas convenções
que estava fundamentada sua emanação.
2 — Deus, criador de tudo.
Perguntareis o que esses primeiros seres eram antes de sua
emanação divina, se existiam ou se não existiam. Eles existiam no
seio da Divindade, mas sem distinção de ação, de pensamento e de
entendimento específico. Eles podiam agir ou sentir unicamente
pela vontade do Ser superior que os continha e no qual tudo era
movido; o que, verdadeiramente, não se pode chamar de existir.
Entretanto, essa existência em Deus é de absoluta necessidade; é
ela que constitui a imensidade da potência divina. Deus não seria o
pai e o senhor de todas as coisas, se não tivesse inata em si uma
fonte inesgotável de seres que ele emana por sua vontade e quando lhe apraz.
É por essa multidão infinita de emanações de seres espirituais para fora de si
que ele tem o nome de Criador e as suas obras, o de criação divina
espiritual e animal espiritual temporal.
3 — Uma quátripla essência divina, quatro classes de primeiros
espíritos emanados.
Os primeiros espíritos emanados do seio da Divindade
distinguiam-se entre si por suas virtudes, suas potências e seus
nomes. Eles ocupavam a imensa circunferência divina chamada
vulgarmente Dominação e que tem seu número denário conforme
a seguinte figura: — (figura, p. 78, 2o §) —, e é aí que todo
espírito superior 10, maior 8, inferior 7 e menor 3 devia agir e
operar para a grande glória do Criador. Sua denominação, ou o seu
número, prova que a emanação deles vem realmente da quátripla
essência divina. Os nomes dessas quatro classes de espíritos eram
mais fortes do que os que damos vulgarmente aos querubins,
serafins, arcanjos e anjos, que só foram emancipados depois.
Ademais, esses quatro primeiros princípios de seres espirituais
tinham em si, como dissemos, uma parcela da Dominação divina,
uma potência superior, maior, inferior e menor, pela qual
conheciam tudo o que podia existir ou estar contido nos seres
espirituais que ainda não haviam saído do seio da Divindade.
Como, direis, podiam eles ter conhecimento de coisas que ainda
não existiam distintamente e fora do seio do Criador? Porque esses
primeiros líderes emanados no primeiro círculo, chamado
misteriosamente de círculo denário, liam claramente e com plena
certeza o que se passava na Divindade, assim como tudo o que
estava contido nela. Não deve haver dúvida sobre o que digo aqui,
convencendo-se de que só ao espírito cabe ler, ver e conceber o
espírito. Esses primeiros líderes tinham conhecimento perfeito de
toda ação divina, uma vez que foram emanados do seio do Criador apenas para serem testemunhas
diretas de todas as suas operações divinas e da manifestação de
sua glória.
4 - Consequências necessárias da prevaricação dos líderes
espirituais divinos.
Esses líderes espirituais divinos conservaram o seu primeiro
estado de virtude e potência divina depois de sua prevaricação?
Sim, eles o conservaram, pela imutabilidade dos decretos do
Eterno, pois se o Criador tivesse retirado todas as virtudes e
potências que ele transmitiu aos primeiros espíritos, não teria
havido mais nenhuma ação de vida boa ou má, nem nenhuma
manifestação de glória, de justiça e de potência divina nesses
espíritos prevaricadores. Dir-me-eis que o Criador deve ter
previsto que esses primeiros espíritos emanados prevaricariam
contra as leis, os preceitos e os mandamentos que lhes foram
dados, e que, então, lhe cabia contê-los na justiça. Responderei a
isso que, ainda que o Criador previsse a orgulhosa ambição desses
espíritos, ele não podia, de modo algum, conter e parar o
pensamento criminoso deles, sem privá-los de sua ação particular e
inata, posto que foram emanados para agir segundo sua própria
vontade e como causas segundas espirituais, consoante o plano que
o Criador lhes traçara. O Criador não toma parte alguma nas
causas segundas espirituais, boas e más, lendo, ele próprio,
apoiado e fundamentado todo ser espiritual em leis imutáveis. Por
esse meio, todo ser espiritual é livre para agir segundo sua vontade
e sua determinação particular, como o próprio Criador disse à sua
criatura, e vemos a confirmação disto todos os dias diante dos
nossos olhos.
5 — Gênero da prevaricação dos primeiros espíritos e sua
punição.
Se me perguntardes qual foi o gênero da prevaricação desses
espíritos, para que o Criador tenha usado a força das leis divinas contra eles, responderei que esses primeiros espíritos foram emanados apenas para agir como causas segundas e não para
exercer sua potência sobre as causas primeiras, ou a ação própria
da Divindade.
Por serem apenas agentes segundos, eles deviam ser
zelosos apenas de suas potências, virtudes e operações segundas, e
não se ocupar em obstar o pensamento do Criador em todas as suas
operações divinas, tanto passadas quanto presentes e futuras. O
crime deles foi querer condenar a eternidade divina; em segundo
lugar, querer limitar a onipotência divina em suas operações de
criação; e, em terceiro lugar, levar seus pensamentos espirituais ao
ponto de pretenderem ser criadores de causas terceiras e quartas
que eles sabiam ser inatas na onipotência do Criador, a qual
chamamos de quátripla essência divina. Como podiam eles
condenar a eternidade divina? Querendo dar ao Eterno uma
emanação igual a deles, vendo o Criador simplesmente como um
ser semelhante a eles, e que, em consequência, devia nascer deles
criaturas espirituais que dependeriam imediatamente deles, assim
como eles dependiam Daquele que os emanara. Eis o que
chamamos de princípio do mal espiritual, sendo certo que toda
vontade má concebida pelo espírito é sempre criminosa perante o
Criador, mesmo que o espírito não a realize em ação efetiva. Foi
como punição dessa simples vontade criminosa que os primeiros
espíritos foram precipitados, pela pura potência do Criador, em
lugares de sujeição, de privação e de miséria impura e contrária aos
seus seres espirituais, que eram puros e simples por sua emanação,
o que vai ser explicado.
6 — A criação material.
Tendo esses espíritos concebido seu pensamento criminoso, o
Criador deu força de lei à sua imutabilidade, criando este universo
físico em aparência de forma material, para ser o lugar fixo onde os espíritos perversos agiriam e exerceriam em privação toda a sua malícia.
Não se deve incluir, nessa criação material, o
homem, ou o menor, que hoje está no centro da superfície terrestre,
porque o homem não devia fazer uso de nenhuma forma dessa
matéria aparente, tendo sido emanado e emancipado pelo Criador
tão-somente para dominar sobre todos os seres emanados e
emancipados antes dele.
Esse menor foi emanado somente depois
que este universo foi formado pela onipotência divina para ser o
asilo dos primeiros espíritos perversos e o limite de suas operações
maldosas, que jamais se prevalecerão contra as leis de ordem que o
Criador deu à sua criação universal. O homem tinha as mesmas
virtudes e as mesmas potências que os primeiros espíritos, embora
tenha sido emanado apenas depois deles. Ele se tornou o superior e
o mais velho deles por seu estado de glória e pela força de
comando que ele recebeu do Criador. Ele conhecia perfeitamente a
necessidade da criação universal; conhecia também a utilidade e a
santidade de sua própria emanação espiritual, bem como a forma
gloriosa de que era revestido para agir, em todas as suas
resoluções, sobre as formas corporais ativas e passivas. Era nesse
estado que ele devia manifestar toda a sua potência, para a grande
glória do Criador, era face da criação universal, geral e particular.
TRATADO DA REINTEGRAÇÃO
DOS SERES em sua primeira propriedade,
virtude e potência espiritual
DOS SERES em sua primeira propriedade,
virtude e potência espiritual
Saint-Martin
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